A aveia é uma das melhores fontes de hidratos de carbono para incluir na dieta. É um cereal que também fornece uma quantidade significativa de fibras e pode ser consumido cru ou cozinhado. No entanto, nos últimos tempos, tem-se falado muito do seu teor em herbicidas e pesticidas, nomeadamente o glifosato. Embora alguns especialistas o classifiquem como nocivo para a saúde, a posição da ciência é, atualmente, bastante diferente.
Em primeiro lugar, os hidratos de carbono complexos são recomendados na maioria das dietas. O conteúdo total destes nutrientes deve ser modificado de acordo com as necessidades nutricionais, mas é claro que é sempre recomendável dar prioridade aos hidratos de carbono complexos em relação aos açúcares simples. A aveia é um excelente produto para ajudar a satisfazer as necessidades destes macros.
Benefícios da aveia
O consumo regular de aveia pode ter alguns benefícios para a saúde. Estes derivam não tanto dos hidratos de carbono que contém, mas da presença de outros compostos como os beta-glucanos e os antioxidantes. É um alimento com muita fibra solúvel, um composto que serve de substrato energético para as bactérias que vivem no tubo, promovendo assim o equilíbrio da microbiota (eubiose).
Entre os principais benefícios da aveia podemos destacar:
- Melhora a saúde cardiovascular. O consumo regular de aveia está associado a um melhor perfil lipídico e a uma menor concentração de triglicéridos no sangue. Isto pode ajudar a reduzir a incidência de acidentes cardiovasculares.
- Menos sintomas gastrointestinais. Graças aos beta-glucanos, as bactérias do trato digestivo obtêm o substrato energético de que necessitam para crescer, evitando assim uma perda de densidade que poderia levar ao desenvolvimento de intolerâncias aos nutrientes ou de doenças auto-imunes.
- Facilita a perda de peso. A aveia não aumenta a oxidação das gorduras, mas estimula o mecanismo de saciedade graças à fibra. Esta é solúvel e incha em contacto com os líquidos. Isto aumenta o volume do bolo fecal e a estimulação dos mecanorreceptores no trato gastrointestinal. Estes enviam sinais ao cérebro de que a ingestão de alimentos deve ser suprimida.
- Promove a energia dos desportistas. Os atletas precisam de doses muito elevadas de energia e de uma ingestão elevada de hidratos de carbono todos os dias. A aveia é um cereal extraordinário para eles, pois concentra hidratos de carbono de alta qualidade para garantir um desempenho atlético ótimo. Além disso, em combinação com proteínas de alto valor biológico, estimula os mecanismos que promovem o ganho de massa muscular.
Controvérsia sobre o pesticida glifosato na aveia
Tornou-se moda nas redes sociais falar sobre os perigos de comer aveia devido à presença de glifosato na mesma. O glifosato é um herbicida utilizado para melhorar a qualidade da cultura, evitando assim que as pragas danifiquem os grãos e arruinem as colheitas. Não se trata de um fenómeno recente, nem a aveia é o único alimento que pode conter vestígios deste produto. Mas a verdade é que os riscos estão atualmente a ser exagerados. Vamos falar-te disso em pormenor,
O que é o glifosato?
Este nome é dado a um herbicida de largo espetro absorvido pelas folhas que mata algumas plantas ao interferir com a síntese dos aminoácidos fenilalanina, tirosina e triptofano. Quimicamente, é um análogo aminofosfonado do aminoácido glicina. Foi descoberto nos anos 70 e tem sido utilizado regularmente desde os anos 90 em diferentes tipos de culturas.
Qual é a quantidade de glifosato que a aveia contém?
Foram recentemente publicadas análises efectuadas por um laboratório independente, que encontraram vestígios de glifosato em todas as amostras de aveia estudadas. A quantidade variou de 40 ng/g a 1100 ng/g. Claro que as variedades biológicas tinham uma concentração mais baixa. Foi aqui que soou a maior parte dos alarmes. No entanto, temos de ter em conta que estamos a falar de doses praticamente ridículas, que muito provavelmente não representam um grande risco. Deixa ver.
O glifosato é um perigo para a saúde?
A AESA descreve que a dose diária aceitável de glifosato é de 0,5 mg/kg de peso corporal e que não há efeitos adversos observáveis até doses de 100 mg/kg de peso corporal. Trata-se de doses diárias e mantidas ao longo do tempo, como é óbvio.
De notar também que a disponibilidade do glifosato é muito baixa. Apenas 20 a 30% do composto é absorvido por via oral. E da quantidade total absorvida, apenas 1 % permanece após 7 dias, uma vez que a capacidade do organismo para o eliminar é bastante elevada.
Os riscos da exposição frequente a grandes quantidades de herbicida não são claros. Algumas análises sugerem que os principais danos são sentidos ao nível do fígado. Quanto ao cancro, há muita discussão, pois encontramos artigos que mostram uma associação e outros que não. Em todo o caso, até à data, não existem estudos de dose-resposta consistentemente bem concebidos.
O que parece é que a exposição ao glifosato pode representar um risco maior durante as primeiras fases da vida. Neste caso, os limites toleráveis seriam inferiores aos estabelecidos e o herbicida teria um efeito neurotóxico que comprometeria o desenvolvimento. Mas na idade adulta este problema é significativamente reduzido.
Como é que se pode reduzir a exposição ao glifosato na aveia?
De um modo geral, o teor de glisfosfato da aveia não parece constituir um risco importante para a saúde, desde que sejam consumidas doses normais do cereal. Embora este composto seja bastante resistente ao processamento térmico, é verdade que a escolha de variedades biológicas reduz significativamente o teor de herbicida. Por isso, pode ser uma das melhores alternativas para quem quer reduzir ao máximo a exposição.
Mas é claro que há muitos outros hábitos alimentares que causam muito mais preocupações e danos do que o glifosato na aveia em si. É provável que o efeito da redução do consumo para zero seja marginal e a muito longo prazo. Pelo menos é o que nos dizem os ensaios efectuados até à data.
Referências bibliográficas
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